Um pré-natal bem conduzido exige uma avaliação minuciosa, e o Doppler das artérias uterinas é um exame importante nesse processo. Este exame avalia o fluxo sanguíneo que leva os nutrientes da mãe para a placenta, sendo crucial para a triagem de pré-eclâmpsia e para o diagnóstico diferencial do baixo crescimento fetal, especialmente no terceiro trimestre.
Em minha prática, sigo as recomendações da Fetal Medicine Foundation e da ISUOG, realizando o Doppler das artérias uterinas em momentos específicos: com 12 semanas, entre 20 e 24 semanas, entre 30 e 32 semanas, e entre 35 e 37 semanas. É importante lembrar que a triagem para pré-eclâmpsia considera vários parâmetros, como idade da gestante, peso, altura, tabagismo, etnia/raça, hipertensão, diabetes e histórico familiar de pré-eclâmpsia.
Para garantir um diagnóstico preciso, também medimos a pressão arterial rotineiramente. Todos esses dados são inseridos em uma calculadora específica (disponível em aplicativos, sites ou softwares), que nos ajuda a identificar as gestantes com maior risco de desenvolver pré-eclâmpsia e que, portanto, precisam de um pré-natal mais cuidadoso (chamado de pré-natal de alto risco).
Um erro frequente que observo em exames de segunda opinião é a classificação equivocada de gestantes como alto risco para pré-eclâmpsia, baseada apenas no Doppler espectral das artérias uterinas, ignorando os outros fatores. Uma gestante saudável pode ter um fluxo alterado nas artérias uterinas e continuar em baixo risco, enquanto uma gestante tabagista, hipertensa e diabética sempre será classificada como alto risco, independentemente do índice de pulsatilidade.
Os valores normais desses índices de pulsatilidade mudam ao longo da gestação, sendo uma curva que diminui conforme o termo se aproxima. Isso torna a avaliação difícil se feita apenas de forma visual (“olhômetro”). Por isso, a calculadora é uma ferramenta indispensável, e uma nova atualização com parâmetros ainda mais eficientes está prevista em breve.
Em nossa região, não temos acesso ao exame de sangue dos marcadores sorológicos angiogênicos, como PlGF e sFLT-1, que poderiam enriquecer ainda mais essa avaliação.
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